o. p. c. v.

waste not | e uma citação da Donna Haraway

Waste not, por Tynan Stewart na real life magazine

Para o fazendeiro-poeta Wendell Berry, a ineficiência de práticas incrementais é uma virtude. Em seu ensaio de 1988, "O Trabalho da Cultura Local", Berry descreve um balde ancião, que há décadas persiste pendurado numa cerca perto de sua fazenda no Kentucky. O recipiente, entretanto, é menos importante que o conteúdo. Ele escreve:

O que está acontecendo naquele balde é a coisa mais importante que conheço, o milagre mais grandioso que já ouvi falar: está fazendo-se terra. O velho balde ficou pendurado ali por muitos outonos, e folhas caíram ao seu redor e algumas caíram dentro. Chuva e neve caíram dentro, e as folhas caídas absorveram a umidade e então apodreceram. Dentro caíram nozes, ou esquilos as levaram até lá; ratos e esquilos comeram o âmago das nozes e deixaram as cascas; eles e outros animais deixaram excrementos; insetos voaram balde a dentro e morreram e decaíram; pássaros se coçaram, deixaram seus excrementos e talvez algumas penas. A composição das frases lúdicas de Berry, que descrevem camadas sobre camadas de acumulação natural, é por si só uma imagem agradável do assunto. Da mesma maneira que as folhas vagam em direção a seu fim preordenado, ele serpenteia até seu ponto central: "Esse trabalho lento de crescimento e morte, gravidade e decomposição, que é o trabalho principal do mundo, produziu agora no fundo do balde vários centímetros de húmus escuro.


"... que não é humano, é húmus, que não é humanidade, é humusidades? E que ser humano é sempre já ser adubo [com-post]? E quando nós vivemos e imaginamos passado, presente e futuro, é enquanto adubo, não dentro do pós-humanismo." – Donna Haraway, Habitar a barriga do monstro, em "Os mil nomes de gaia" Editora Machado

#natureza #reallifemag #tech